dezembro 27, 2007

: O Lusitano (3) :

Mas sobre o lusitano ainda há tanto a dizer…os empregados!

Temos um sisudo e mal-encarado, com uns 26anos, pelo que soa por aí, até arrogante, mas giro...um deleite para quem gosta do tipo masculino, moreno e barba por fazer.

Para quem gosta de bixas, magras, esquias e loiras temos…a girafa loira!- (que, quando aquilo ainda não era um bar gay, começou claramente a esclarecer os mais duvidosos quanto ás reais tendências do espaço).
Deve ter uns 22. A quem não lhe agrada, demora atender e faz um ar sério: pega no papel de consumo e não diz uma palavra, ouve, toma nota e pousa a bebida, sempre de nariz empinado e ar superior, como se servir bebidas a seres, na maioria de intelecto básico, fosse a profissão mais responsável e bem paga do mundo!
Quando agradam, ri, mete conversa, agita-se toda, abana o (mal feito) rabo e dá uns passinhos de dança enquanto pega no copo e busca a bebida. Mas ninguém leva a mal…no fundo todos sabem que as bixas tem o cérebro pequenino, onde a bichisse está acima do profissionalismo.

Idem para o alienado, também novo…mais presente a servir ás mesas durante a tarde, de avental (que na ideia dele deve ser uma saia, tal ele se move dentro dele), e anda a desfilar por ali. Vai servindo, demorando, não peçam um isqueiro, um jornal, um cinzeiro, uma informação qualquer porque nunca sabe, não tem, não não sei que…

As gajas, já com ar mais maduro. Uma morena, óculos e marrafa, simples, pouco faladora, profissional. Outra colorida, simpática mas de forma forçada, por vezes arrogante, com ar de estudante de artes frustada.

dezembro 25, 2007

:O Lusitano (2) :

E assim foi, por uns meses que aquilo era a moda do porto; ir ao Lusitano era chique e os casais “bem” heteros e respectivos grupinhos invadiram aquilo, pela moda gay impulsionada pela TV (de repente ter um amigo gay passou a ser uma coisa muito gira!).

Hoje, ao sábado o Lusitano é mais uma disco gay, de bixas velhas e sozinhas á procura de bixas novas, de bixas velhas acompanhadas de bixas velhas, de bixas velhas a querer parecer novas, de bixas intelectuais a criticar as outras bixas, e de bixas novas em grupinhos armadas em meninas de liceu (aliás, são estas que invadem aquilo á tarde, a andar de um lado para o outro a rir com a mais recente mensagem de telemóvel…quando aquilo está aberto de tarde na esperança de ser um café acolhedor).
O lusitano tenta até ser muita coisa: um café de tarde, um restaurante à hora de jantar e uma discoteca á noite. A parte do restaurante é interessante: pouca gente lá janta, e o cliente mais habitual é a bichosa sócio-gerente, coisa castiça! Um quarentão esguio, efeminado e de cabelo castanho claro; quem “a” quiser ver é passar lá após as 8h00 e vê-la a chegar de ar atarefado, a cumprimentar os empregados e as tias amigas (quando a esperam), a andar de um lado para o outro armado em dona de casa que chegou á sala de estar e depois sentar-se e ser servida pelos empregados a desfrutar do seu manjar…calma e serena. Depois entram clientes, ainda o bar está quase vazio, e vêm aquela madame a jantar e o sentimento é o de ter chegado à sala de estar de alguém.
(continua)

dezembro 22, 2007

: O Lusitano (1) :

De bar aberto a meio do Inverno e do ficar divulgado pouco a pouco pelo “palavra-puxa-palavra” pouco faltou a ficar conhecido, e a ser a mais recente coqueluche das bixas do porto. O espaço é giro, com gosto, decorado e com estilo. Não é o típico espaço de paredes vazias e frio para bixas desfilarem.

O Lusitano, não abriu, contudo, sendo um bar gay, mas surgiu na zona destes (a escassos metros dos Moinho e Boy’s) e depois do único café não exactamente discoteca ter fechado (o CNP), faltava ao Porto um espaço de entrada sem que fosse necessário consumo obrigatório e sem ser necessário entrar e ver atrás de nós uma porta opaca fechar-se para a rua (ao menos a porta deste é de vidro…).

Inicialmente era um espaço interessante, acolhedor e alternativo, com gente com bom ar, de diversos quadrantes, que estavam basicamente a conversar e desfrutar o espaço – por falar em espaço: temos uma enorme porta de ferro e vidro na rua de a cesso ao bar; o interior divide-se em 3 partes, sendo a primeira de algumas mesas, seguindo-se o bar (no meio do bar…e encostado à direita), por detrás deste, um outro espaço ora com mesas ora sem (consoante a ocasião) e finalmente um recanto de sofás, mesas baixas e luz vaga vinda de candeeiros marroquinos.

Depois de interessante, passou a sufocante: ao fim de semana já havia fila à entrada, seleccionada pela porteira…a porteira. Uma senhora baixa, cabelo loiro pintado, num misto de mulher misteriosa com burguesa da foz…resumindo, de tia. A tia fofa olhava para a cara das bixas doidas para entrarem e delirava de prazer com aquilo! Fazia um ar de poderosa como que a vingar-se das bixas por serem mais novas e pelos homens da noite se olharem mais entre eles do que para ela... se ela conhecesse alguém, agitava o dedo cheio de anéis e passava à frente. Se não conhecesse, mas se o sr Conde mandasse (já lá iremos…), passava também. Ele vinha e no seu poderoso ar indicava quem lhe agradava para entrar.

(continua)

dezembro 21, 2007

: Quem são os gays? (2) :

Gays / Homosexuais / Bis / Heteros Curiosos = são tudo definições diferentes, mas semelhantes numa coisa: gostam todos de sexo entre eles, eles homens. Como é isso feito? Como é isso vivido? Como é este mundo?

È assim na generalidade:

Medo – Frustação – Mentira
Medo da Exposição – Negação do sentimento
Procura do Físico – Alienação do Mental
Rapidez – Desejo Carnal – Intensidade
Imposição – Pressão Social – Família
Fuga – Esquecimento – Busca de um outro “Eu”
Insatisfação


O medo é geral. Dos gays, dos bis, de todos: dos que procuram alguém, e medo de quem pode ser esse alguém. Não há referências, raramente se encontra alguém no nosso meio de vivência diária. Tem que existir uma busca: nos bares, na net, em outros espaços…e quem se encontra, é quem diz ser que é?

“Será realmente a primeira vez que aquele faz aquilo ou é mais “rodado”? E as doenças? Será que vai manter contacto, ou vai procurar outro? Será que é mesmo solteiro, ou marido e pai?”
“Ele parece interessante, mas quem é? Parece perfeito, mas só o conheço à 2 semanas e já namoramos?”


A frustação. Por afinal o que parece ser não é. Não existem referências, so existe o risco – é acreditar em tudo o que nos é dito e esperar que não seja, como quase sempre, mentira. Todos jogam á defesa, todos protegem o seu mundo real e todos tem medo da exposição de quem realmente são aqueles a quem não se podem expor.

“Ele nunca disse mais nada…não terá gostado de mim? De estar comigo? Porque o telemóvel não dá?”
“Afinal o namoro durou 2 meses…ele traiu-me e já anda com outro. Nunca mais acredito em ninguém…”


Negam o sentimento…esquecem quem são, a alienam o lado mental e tentam justificar tudo como sendo meramente uma procura do físico, porque o desejo da carne é mais forte.

Eles passeiam com a mulher na praia, mas reparam é das pernas do marido do casal amigo. O que ele queria era mais intimidade com ele, e sabe que também é olhado…é o jogo do rato e do gato…aproximam e fogem…se calhar são ambos mesmo aquilo que ambos pensam ser um do outro…mas ali não, naquele contexto não! Não podem…mas podem fora dele. Cada um faz buscas nocturnas, e um dia ainda se encontram numa estação de serviço.

Com o amigo não podem, mas podem com um estranho, que sabem que não vão voltar a ver e que não os vai fazer lembrar daquilo que fizeram. Tem que ser rápido e intenso…tem que ser anónimo…com alguém encontrado em área de engate para sexo no carro, num motel ou num sítio improvisado. Ou então, para os mais corajosos, vão ao sítio onde todos dão a cara pelo mesmo: uma sauna. Onde o pretexto da saúde dá lugar a um antro de promiscuidade. Não conversam, não é isso que querem. Escolhem o produto da prateleira do supermercado…fazem um sinal e pronto. Está tudo preparado para frustados e não só. Gente de todo o tipo lá está, uns por curiosidade, outros por rotina, mas todos no fundo sabem o que lá encontram.

E de quem é a culpa disto? Porque não podem os relacionamentos entre homens serem apenas relacionamentos normais? Por culpa da sociedade, das tradições, dos valores da treta que se mantêm aos quais as pessoas seguem de forma irracional como que um cãozinho atrás do osso. A sociedade está cheio de gente pobre, pobre de espírito…gentinha, que vive das novelas e dos filmes de “entretem pamonhas”, da fantasia, do mundinho cor de rosa; é esta gentinha que domina, é esta a espécie maior em número. São as tendências deste povinho que inpões as regras e os gostos, que faz a pressão social e que não permite que as minorias apareçam. È a pressão social, em prol dos valores sociais e da família
Para a mãezinha não interessa que o filho saia de casa e se torne numa pessoa culta, viajada…interessa é que fique em casa a ver filmes de futebol com os irmãos e os primos e se torne um parolo de primeira. A filhinha fica bonitinha a ver novelas, não é a estudar nem a visitar um museu…os morangos com açúcar não ensinam muito com as personagens gays pelos vistos…mas a mãezinha gosta dela assim. Burra, fútil e grávida aos 18, casada com um trolha que a sustente e que a tire de casa, ainda com o secundário por fazer.

Está-se sempre numa constante fuga, onde se entra no esquecimento, onde se guarda no fundo do ser aquilo que se faz e que nunca se terá coragem de revelar alguém que se fez. Busca-se um outro eu: perante a sociedade cria-se uma imagem não de acordo com o que queremos, mas de acordo com o que queremos parecer ser.

Depois é isto: gente frustrada, cheia de insatisfação.

dezembro 20, 2007

: Quem são os gays? (1) :

Gay, alegre, feliz = serão os homosexuais de facto assim? Dah…
Se pensar um bocadinho, que não preciso de muito, aparecem-me logo uns quantos tipos diferentes de “espécimes”. Mais ainda serão se deixarmos o universo gay em si e passarmos aos seus rodeios, ou seja, deixar o núcleo e considerar os arredores…

Temos o “gay tonto”, o mais visível e o espécime mais frequente nos espaços nocturnos da especialidade; são coisas coloridas, agitadas, faladoras, abichanadas e emissoras de guinchos loucos, mas simpáticas, que dão cor ao mundo gay. Se num bar gay começar a dar uma música da Madonna (a rainha da Pop, e das bichas), ui …estas coisas entram em êxtase...
Mas, e os que não entram em êxtase? E os que até nem dançam? E os que nem vão aos bares? E os que talvez até nunca foram? E os que nem participam nas manifestações? E os que participam, sabem sequer o que estão lá a fazer?